domingo, 30 de maio de 2010

Curiosidade

"Não sou alienado. Gosto de política. Leio filosofia. Sei da coluna social e do capítulo de uma novela que não assisto. Acompanho o noticiário e as páginas dos jornais. Compro revistas adoidado. Estou atento, com o olho correndo rápido em tudo que vejo. Ou no que não vejo mas deveria ver. Leio as críticas dos últimos lançamentos, rabisco uma opinião. Minha curiosidade é tamanha. Entender essa tecnologia. Estudar as novas tendências. Minha curiosidade é sem fim. Saber, saber, conhecer. Expandir. Sou assim, não tente me contrariar. Viajo fazendo conjecturas, discutindo comigo mesmo. Perguntam e eu respondo. Elogiam e me regozijo. Um riso contido, discreto só por ser. Não faço pelos outros, faço por mim. É da minha alma, inquieta e revolta, este meu jeito só meu de ser."

Foto: http://www.flickr.com/photos/pinksherbet/

Arte que não me dá respeito

"Minhas palavras são repetitivas. Desgasto as mesmas frases. Gosto de fórmulas prontas temperadas de clichês inéditos. Minha poesia é débil, perfunctória, infantil. Uso de palavras pouco corriqueiras e assim escondo meus desvios. Erro a gramática, não tento a métrica por ser incapaz. Repito assuntos mais uma vez. Não gosto de reler o que já fiz. Clarice entenderia. Porque o tempo não passa e aprendo que esta não é minha arte? Eu não tenho arte! Nasci sem talento, vou morrer com menos ainda. Um dia quem sabe, meu neto me peça: conta uma história, vovô! De um olhar profundo vou dizer ao menino: vai brincar, vai; que esse negócio de letras não está no seu sangue."

Foto: http://www.flickr.com/photos/visualpanic/

sábado, 29 de maio de 2010

Da análise humana


"A análise humana nunca é uma atitude direta. O homem cria entremeios, dificulta palavras, esconde seus atos. O olhar atento vê as entrelinhas, capta sentimos escondidos, intercepta expressões cruciais. Uma atividade laboriosa, que exige treino e, diga-se, um certo dom. Dom, pois a mente humana não foi feita para ser revelada; é preciso ser teimoso o suficiente para tentar desafiá-la. Apesar da busca incessante, quando enfim a tocamos é uma experiência intensa, extrema: tal como tocar o metal frio, do qual se é impossível desligar; a mente não permite fugas, quer saber quem é o homem que ousou conhecê-la de frente. Na verdade, o que pode ser visto é apenas um vislumbre, a ponta final de um trançado complexo e infinito. A mente jamais permitiria ser vista. Seus mistérios existem para serem mistérios. Aí que está toda a graça!"

Foto: http://www.flickr.com/photos/greenjeans/

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Da Alegria

"Hoje é o dia da virada! A Tristeza foi embora. Expurguei os maus pensamentos. Voltei a cantar, já consigo escrever. O futuro pode parecer um horizonte cinza, mas sei como enfrentar: é só fechar os olhos e não ver o que está a frente! Viva o agora! O presente é o que importa! Uma das lições mais difíceis e uma das mas valiosas. Sinta o sangue correndo, o ar entrando nos pulmões, sinta o toque, o abraço sincero nunca foi tão valioso, o amor verdadeiro nunca foi tão singelo. Os pequenos momentos que valem por anos. Acredite, sofrer não é um bom caminho. O bom caminho já tem pedras suficientes pra atravessar. Sinta a intensidade do que o rodeia. Você já agradeceu hoje, pediu 'por favor' e se desculpou pelos erros? Faça, sem demora! Sorria, cante, mesmo sem ter motivos. Os problemas serão os mesmos, é a forma de encará-los que você pode controlar!"

Foto: http://www.flickr.com/photos/ciadefoto/

Da Tristeza que me procura

"A Tristeza há muito tempo tenta andar comigo. Ela finge que me entende, me trata bem e diz que compreende. Às vezes, caio no seu conto. Vivemos de mãos dadas por alguns dias, assim em silêncio em um acordo tácito.
Nesses dias me consumo. Como pouco, durmo mal, rio quase nada. Esqueço os amigos e cometo loucuras. Tudo para estar ao lado dela. Ela fica feliz, o que pra ela é triste. Muito triste em me ver de tal forma; é todo o prazer de que ela precisa. Da energia que me leva ela se sustenta. Menina travessa, acha que me ganhou...
No abrir dos olhos sinto um sopro no ouvido. O sopro encontra um caminho, faz voltas e mais voltas. Toma conta do meu ser. Sinto o calor invadir o meu corpo lentamente. Levanto da cama e olho o espelho. O corpo magro, olheiras enegrecidas. É assim que vou pra luta.  A Tristeza não tenta se aproximar. Já sabe que perdeu de novo. E pensa 'só mais uma batalha'. Como é convencida!
Saio, dessa vez sozinho. Sei que mais uma vez estou livre. Sei que é só temporário. Sei que meus problemas não estão resolvidos. Mas, agora, caminho com a cabeça erguida. E isso faz toda a diferença!"

Foto: http://www.flickr.com/photos/hills_alive/

terça-feira, 25 de maio de 2010

O Nada que me vem à cabeça

"Tento escrever e as palavras não saem. Mil assuntos me atormentam, fazem repensar, interferem. Saio; olha a janela, minha vitrine preferida; volto. Escolho outro tema e escrevo. Não. Olho o nada, vasculho pastas e pastas que se sobrepõem. O marasmo toma conta e perco a vontade. Fecho o caderno. Escondo o lápis. Algo me prende àquele instante, àquele lugar. Mais uma vez. As palavras saem ligeiras, correndo faceiras por estarem livres. Meu texto começa assim: tento escrever e as palavras não saem... Não sei mentir. Quero escrever, mas ficou para outro dia. Tantos sentimentos oclusos, agudos. Sem rimas, por favor! Se a vida passa ligeira, corra ao lado dela. Ficar para trás nunca foi uma boa escolha."

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Da sensibilidade

"Uma brisa leve flutua no ar. Um toque frio, a pele exalta. O olho fechado na luz contra o Sol. Os pés pisam um verde áspero e seco. No olfato, o inconfundível hálito de inverno.
No ouvido, a música canta a solidão em versos métricos. O som alcança o infinito. Doce sabor de um dia de junho de dois mil e qualquer ano. Você caminha sem destino, caminha apenas para ir em frente. Senta na escada de pedra fria, abraça as pernas e fica. Imóvel. Estático.
As flores já explodiram em matizes. Elas olham para você fixamente. O poste no meio do caminho avisa que a noite vem chegando. Hora de ir embora. Voltar para o casulo. Porque amanhã nada disso será como hoje."

Foto: http://www.flickr.com/photos/ballet_lausanne/

domingo, 23 de maio de 2010

Da angústia


"Sofro de angústia.
Mórbida, crônica, aguda. Crítica.
Por mais que lute, por mais que me debata, ela não larga.
Na verdade, você não luta contra ela. Somente ignora.
Ignora por tanto tempo na esperança de que ela se canse e vá embora.
E ela não vai. Está sempre a espreita; aguardando qualquer momento sem razão, qualquer fotografia que ficará, irreversivelmente, gravada em sua memória como um momento que você não quer lembrar. 
Depois de tantos anos, ela acaba se tornando sua amiga. Conhece as vontades dela, ela as suas. Por vezes até conversam. Contam seus segredos obscuros e riem; um riso nervoso, cinza e profundo.
Cansada, enfim, ela decide se afastar. Mas só um pouquinho. O bastante para você viver. Tomar um café, sair com os amigos.
Só. Pelo canto do olho, encostada na porta, ela está ali a sua espera: a angústia."

Foto:http://www.flickr.com/photos/supersonicphotos/

Da janela

"Sair de casa é um ato de coragem.
Na preguiça de um lar, as regras são suas. As vontades são suas. Ninguém se importa se sua cara está amassada, seus olhos vermelhos. Não importa. Desde que você esteja bem...
Agora, ao pôr o pé pra fora, você chega ao lugar de ninguém; o lar de milhões de pessoas que correm todos os dias, sempre atrasados, precisando chegar antes do que qualquer um. As pessoas lhe julgam: 'Que horrível aquela roupa!', 'Olha como o cabelo não caiu bem!', 'Pobre homem, tão desarrumado'.
Por que sair de casa para um mundo tão perverso? O homem é, na sua essência, um masoquista! Precisa mostrar que está bem, dizer aos outros 'Olhem pra mim'. O ego que grita pela garganta, pelas têmporas. Grande teatro social! Venham todos, é agora, é sempre, sempre será...
Mas eu, quando posso, acalmo o meu ego. Escondo-me no canto mais distante da cidade. Afastado do mundo, olho pela janela e rio das pessoas lá embaixo. O telefone toca e alguém briga comigo por eu não sair. Sou julgado novamente. Pobre pessoa, não sabe como rio dela..."

Foto: http://www.flickr.com/photos/calliope/

sábado, 22 de maio de 2010

Passarinho

POEMINHA DO CONTRA

"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"

Mário Quintana 

Foto: http://www.flickr.com/photos/doodledan/

O poeta

"Escrevo apenas sobre o que toco, o que cheiro, sinto e vejo.
Abuso da retórica. A métrica não me satisfaz.
Corto palavras, rabisco linhas em busca da perfeição.
Leio, releio, tresleio...
Não está bom.
Nuncá estará! Um insatisfeito por natureza.
Busco palavras e elas não me vêm à cabeça.
Maldita arte. Maldita hora em que decidi pôr no papel.
A angústia opressora de que nada dá certo.
Por que eu? Por que comigo?
Cala, só escreve...
Faz a caneta manchar o papel. 
Sente o cheiro de tinta fresca sendo criado por você.
Vai. Dá alento a esta mente insana, frenética.
Que não se cansa, não lhe dá descanso.
Reverbera. Ecoa. Exalta.
Feliz e cansada, a mente do poeta se dá por satisfeita.
Mas é só por enquanto. Logo ela se abre de novo...
E tudo começa de novo outra vez..."

Foto: http://www.flickr.com/photos/boasorteecareca/

No princípio...

"No princípio, Deus criou o céu a e terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas.
Deus disse 'Que exista a luz!' E a luz começou a existir. Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas: à luz chamou de 'dia', e às trevas chamou 'noite'. Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia."
Gen; 1, 1-2

Foto: http://www.flickr.com/photos/jurvetson/